segunda-feira, 18 de outubro de 2010


Meu amigo,

Escrevo-te para daqui a um século, cinco séculos, para daqui a mil anos... É quase certo que esta carta te não chegará às mãos ou que, chegando, a não lerás. Pouco importa. Escrevo pelo prazer de comunicar. Mas se sempre estimei a epistolografia, é porque é ela a forma de comunicação mais directa que suporta uma larga margem de silêncio; porque ela é a forma mais concreta de diálogo que não anula inteiramente o monólogo. Além disso, seduz-me o halo de aventura que rodeia uma carta: papel de acaso, redigido numa hora intervalar, um vento de acaso o leva pelos caminhos, o perde ou não ai, o atira ao cesto dos papeis e do olvido, ou o guarda entre os sinais da memória. 

                          Vergílio  Ferreira, in Carta ao Futuro


  Explica o sentido da frase: «...porque ela é a forma mais correcta de diálogo que não anula inteiramente o monólogo.»
No entender do autor, a carta cria um  espaço reflexivo, pois apesar de existir um receptor, há tempo para “dialogar” consigo mesmo. Os latinos diziam “scripta manent, verba volent”, isto é: as palavras escritas ficas, as palavras ditas voam. Quando escrevemos uma carta estamos a comunicar com o futuro.

 Mesmo sabendo que a mensagem não chegará a destino algum, o que leva, em teu entender,  o emissor a escrevê-la?

O emissor escreveu esta carta pelo prazer de comunicar, isto apesar de nada lhe garantir que vá ser lido. A única intenção do autor é partilhar o seu gosto pela escrita com as gerações vindouras (futuras).
 

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